ENSAIO NÚMERO 19
Se esta palavra sempre foi útil para descrever mudanças inimagináveis, e portanto descontínuas, o que estamos vivendo na atualidade merece o destaque, e para afirmar esta realidade atual escolhi destacar os acontecimentos que impactam no mundo,através da escolha ou, nomeação, ou imposição de nomes de presidentes, ou primeiros ministros atualmente em exercício pelo mundo.
Cabe mencionar numa primeira relação as grandes potências mundiais Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Reino Unido,França, Itália e Canadá.
Sem dúvida, hoje as atenções estão voltadas para o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, figura controversa e central, e suas manifestações, ameaças e medidas concretas, que está tomando, entre elas uma primeira medida, foi a expulsão de milhares de imigrantes ilegais, que viviam nos Estados Unidos. Outra medida de impacto foi a taxação dos produtos importados, em particular os produtos chineses, mas também dos vizinhos México e Canadá. Declaração chocante foi a ideia de tornar o Canadá mais um estado americano, e também o desejo de comprar ou anexar, a Groenlândia pertencendo à Dinamarca. Ainda uma manifestação que chocou foi a ideia de retirar os palestinos de Gaza, tornando o território uma região de domínio americano, ou mais recentemente de transformar a região numa área de turismo de luxo. A sua proposta era que os países árabes limítrofes como Egito e Jordânia, recebessem estes palestinos de Gaza. Ideia que foi imediatamente rejeitada pelos países limítrofes.
Por todos estes movimentos unilaterais, tem surpreendido o mundo, e chamado atenção incluso, a recente mudança de atitude com respeito ás relações com a Rússia, se distanciando da Europa e da OTAN, e mudando a posição americana com relação a Ucrânia e alterando o jogo geopolítico, que era sempre de considerar a Rússia como uma Ameaça ao ocidente.
Desta forma Trump declara que Europa deve defender sozinha as suas fronteiras, provocando uma corrida armamentistas dos países da região, esquecendo os horrores provocados pela recente segunda guerra mundial, e onde se acreditava, que nunca mais haveria nova conflagração. Alegria para a indústria armamentista, e perspectivas nefastas para o futuro da região.
Enquanto Donald Trump surpreende e confunde, deixando o interrogante, se são atitudes desequilibradas, ou se se trata de uma estratégia para obter resultados muito bem pensados.
A China, sob a liderança absoluta de Xi Jinping, como presidente, como Secretário Geral do partido comunista da China, como Presidente do Comité Militar Central, cargos que exerce já por mais de 12 anos, configurando um regime ditatorial, com disciplina do Partido, e unidade interna. Ele combateu a corrupção, o que provocou a demissão de altos membros do governo e passou a realizar uma política externa assertiva, com expansão da influência através da “NOVA ROTA DA SEDA”. O desejo de voltar a incorporar a ilha de Taiwan ao território e domínio chinês, tem provocado tensões com os Estados Unidos e ameaças em caso de uso da força. Devido à concentração de poder e considerado um líder autoritário ou ditador. No entanto a China tem adotado um sistema misturado com economia de mercado, permitindo e apoiando, o florescimento de negócios e estimulando a ida de jovens para estudar no exterior, e depois trazer sus conhecimentos para serem úteis na própria China. O domínio do partido comunista, que é o único partido existente, existe desde 1949. Antigamente o mandato do presidente do partido era de cinco nos com renovação de mais dois anos, mas isso foi abolido desde 2018 dando poderes para Xi Jinping ficar no poder indefinidamente.
A aproximação dos Estados Unidos com a Rússia, pode ser entendida como forma de reduzir a influência da China na Rússia.
Sobre a Rússia que é um regime presidencialista, mas na prática é um regime autoritário centralizado sob o comando de Vladimir Putin. Ele tem amplo poder sobre o governo, a economia, a mídia e as forças armadas. Existem eleições, mas são manipuladas pelo governo, e eventuais oposições são perseguidas. A mídia é controlada, e os dissidentes são perseguidos. E pela alteração feita na constituição ele pode permanecer até 2038.
O regime autoritário existe com Putin desde o ano 2000 e o partido oficial e Rússia Unida. No país a economia é mista, com empresas estatais e empresas privadas, sendo que o governo controla todos os setores estratégicos. Após anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em 2022 sofre de sanções ocidentais. Mantêm parceria com a China, e com mercados emergentes, e a nova política dos Estados Unidos foi uma virada de conceitos, passando a buscar aproximação entre os dos países. As reservas de petróleo e gás, favorecem a balança de pagamentos, mas apesar dessa riqueza, existe concentração numa elite ligada ao governo. A censura e o controle da mídia também caracterizam o atual sistema, que era contestado pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo Canadá até a gestão de Joe Biden.Desta forma o governo exerce grande controle sobre a vida pública.
No momento é preciso também focar na Alemanha, onde o partido no poder SPD Social Democrático, obteve somente 16,4% na recente votação, o CDU partido conservador obteve 28,5% e o partido considerado muito semelhante ao nazismo AfD
Alternativa para Alemanha, teve grande crescimento obtendo20,8% dos votos, e desta forma, haverá necessidade de agrupação de partidos para conseguir legislar. Para os temores do crescimento do partido extremista, provavelmente precisara Friedrich Merz do CDU, e provável primeiro ministro, se aliar com o partido verde, que tem uma votação em torno de 10% e provavelmente também com o SPD. A principal representante do AfD e uma mulher chamada Alice Wilder, morando na Suíça com a sua companheira.
Vimos aspectos da gestão de Donald Trump, de Xi Jinping, de Vladimir Putin, e da nova Alemanha, esta última mais à direita.
Em recente artigo de Bolívar Lamounier, de cujas publicações sou seguidor, destaca também dois países sul americanos como vivendo regimes perigosos, e eles são Daniel Ortega na Nicarágua, Nicolas Maduro na Venezuela, e gostaria acrescentar na lista dos perigosos, o regime dos Aiatolás no Irã, com a figura central de Ali Khamenei. A revolução islâmica data de1979 e se transformou numa teocracia, com grande influência do clero xiita. Existe um presidente eleito, mas as suas decisões precisam estar alinhadas com o líder supremo, que lidera as forças armadas, e chefe do estado, na justiça e na mídia. Existe uma força revolucionária que protege o regime e tem influência econômica. Os direitos das mulheres são limitados, e devem seguir estritamente as vestimentas ditadas pelo regime. Qualquer oposição e duramente reprimida. Ainda se destaca que o Irã apoia financeiramente e com armamentos, grupos considerados terroristas pelo ocidente, como o Hezbollah no Líbano, que é um grupo xiita que atua como aliado do Irã, contra Israel, outro grupo apoiado e o Hamas em Gaza, e o Irã o apoia com financiamento e com tecnologia militar, ainda apoia o grupo Houthi no Iêmen, que é um grupo rebelde xiita em luta contra o governo do Iêmen, e o Irã fornece mísseis e drones usados contra a Arábia Saudita e o Emirados Árabes Unidos. Apoia também grupos xiitas no Iraque e até fornece apoio indireto ao Talibã no Afeganistão. A ação do Irã objetiva combater o que considera seus inimigos, com a intenção de obter mais influência na região, neste caso contra Israel, contra a Arábia Saudita, e contra os Estados Unidos.
Com relação a Nicarágua, A região vive sob um regime autoritário desde 2007, sendo presidente Daniel Ortega e sua esposa como vice-presidente. Eliminaram a oposição, e tem regime ditatorial, com controle do estado, e prisão ou exílio de opositores. As repressões em 2018 resultaram em milhares de mortos. Mantêm alianças com Rússia, China e Venezuela, e recebe em troca, auxilio econômico e político destes países. O povo sofre a desigualdade, com privilégios aos amigos, que são os únicos privilegiados. Milhares de nicaraguenses tem fugido para Costa Rica, e para os Estados Unidos. Em alguns aspectos semelhante a Lula, mantêm apoio de setores populares, distribuindo benesses.
Sobre a Venezuela, não é preciso detalhar aquilo que é sabidamente conhecido, e que é além de regime ditatorial, fraudador das eleições, para Nicolas Maduro se mantêm no poder.
Por todos estes casos mencionados, com regimes que se mantêm por longos períodos no poder, uns com descontinuidade acentuada, outros com regime ditatoriais, o presente apresenta inúmeros perigos. Uma das características da atualidade e também o baixo nível da política atual, onde cada lado ofende e demoniza o outro. Somente existem duas posições, sem dar lugar a uma terceira parte, e tudo se tornando antagônico, sem nenhum terreno comum. Reduzir tudo a dois lados, é como uma camisa de força, e ficamos sem espaço para escolher. Por tudo acima sentimos que estamos passando por uma época de transição da humanidade.
No entanto é preciso mencionar que no Uruguai, um país de pequena população, o entendimento entre os dois partidos principais, tem sido pontuado por respeito e compreensão, e nestes dias assistimos a pose de um partido de esquerda, na figura de Yamandú Orsi, herdeiro político de Pepe Mujica. Uruguai é talvez o país de menor corrupção do continente, e onde a população tem um poder aquisitivo equilibrado, com baixo nívelde pobreza, e onde o respeito entre os partidos e de bom nível, servindo como exemplo para outros países.
Se em 2016 a dupla Lula/Bolsonaro estiver novamente na disputa entre extremos, mais uma vez estaremos sem opções para escolher, e teremos novamente, um período sem avanço na sociedade.
De nossa parte, a nomeação de Gleise Hoffmann para fazer a intermediação do executivo com o Legislativo, que representa a linha mais à esquerda do PT, é um sinal de endurecimento da posição do governo, que continua privilegiando os fiéis camaradas, em detrimento dos competentes, e que se alinha com a parte mais radical do partido dos Trabalhadores.
Também aqui a descontinuidade está presente nas medidas que surpreendem os próprios políticos, e o mercado, que não deixa de reagir, elevando a cotação do dólar, o que por sua vez, terá como consequência maior inflação, e maior empobrecimento, não somente na alimentação, mas também na eletricidade, gasolina, nos serviços e na economia em geral, sem se tomar nenhuma providencia para mitigar esse estado, usando bom senso, e cuidando das finanças e do arcabouço fiscal.
LUIS GAJ – abril 20
– Lejbus Czersnia.
Oi Luís,
Magnífico estudo! Claro, conciso e elucidativo!
Parabéns!
– Euclides Valente Soares.
Um bom apanhado geral que mostra bem a perda do bom senso e da responsabilidade para com a massa populacional de nosso planeta, independentemente onde você viva. O mundo escolheu um caminho perigoso para seguir. Só não sei se é para dar um passo afrente ou dois para trás. Vejo com pessimismo o futuro, não só pela ganância de poder dos “donos do mundo”, mas também, e muito por consequência disso, da destruição que estão provocando no meio ambiente, vital para nossa sobrevivência. A própria natureza dá claros sinais de reação, com crescimento assustador dos eventos naturais.
– Cristina Valvicius.
Obrigada sr. Luis, aprecio muito estas reflexões que trazem um olhar realístico sobre o momento em que estamos SOBREvivendo.
Abs e bjos a todos
– Miriam Menossi
Bom dia Luis!!
Excelente aula de Política Internacional
Obrigado Professor 🙏🏼
O mundo está conturbado e isso nos surpreendeu porque esperávamos um terceiro milênio que fosse de paz, a Era de Aquario. A solidariedade durante a Pandemia, a aproximação entre ricos e pobres sugeria que o mundo caminhava para ser melhor, todos estávamos no mesmo barco. Mas aconteceu o contrário, afastado o perigo, veio o ódio de todos contra todos. O diálogo sumiu para dar lugar a desavenças, intrigas, muita mentira, brigas. Estava aberto o caminho para as guerras que aí estão. Os países tentam sobreviver em meio ao caos e “para não dizer que não falei de flores”, temos o Uruguai, como o Luis mencionou, dando um exemplo de país organizado e civilizado. Não à toa o Uruguai é visto pelos europeus como a Suíça da América do Sul.
A extrema direita se fantasiou de evangélicos iludindo os incautos com promessas inatingíveis e ganhando terreno no mundo todo.
É preocupante! E onde se encontram os verdadeiros políticos? Onde estão aquelas cabeças pensantes que governavam de fato e nem se falava em emendas? Os de agora só legislam em causa própria. É uma vergonha!!!
Tive um professor de Economia que dizia: nada é estático, tudo muda para o seu contrário. Aguardemos!!
Já os apocalípticos como Ailton Krenak dizem que é o fim da nossa civilização. Os Vikings que foram uma civilização modelo findou. Os Celtas, Incas e Maias também. Os impérios Romano, Otomano e outros, idem. Então ficamos com 2 alternativas:
Ou a humanidade se regenera e os países voltem a ter uma relativa convivência em harmonia e paz
Ou, segundo o Apocalipse Bíblico, ouviremos o soar das trombetas anunciando o fim e vamos, os que sobrarem, todos juntos para um mundo melhor.
Assim espero!!!